2.11.06

Suburbios : um ano depois, nada mudou !

Várias mortes, 500 cidades atingidas, milhões de euros em estragos, filhos de imigrantes rebelados, cerca de 3.000 prisões, 8.970 carros incendiados. Há um ano, a França atravessou a sua pior crise social desde os eventos de maio 1968. Três semanas de terror durante as quais os direitos e as liberdades individuais não eram mais respeitados. “O maior motim francês”, na opinião do sociólogo Sébastien Roché, especialista em subúrbios e violência urbana. “Uma revolta popular sem precedente”, de acordo com os Renseignements Généraux, encarregados de explicar os fenômenos sociais às autoridades.
No entanto, o governo de Dominique de Villepin (UMP – direita) não parece ter compreendido o quanto a crise dos subúrbios era grave. Um ano depois, nenhuma reforma de importância foi implementada para melhorar a vida dos habitantes dos bairros populares. Poucos dias após o motim, o governo prometeu instalar um sistema de currículos anônimos nas empresas para lutar contra a discriminação contra os imigrantes. Nada se fez. O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, prometeu zerar a delinqüência juvenil nas periferias. Nada se fez. O ministro do emprego, Jean-Louis Borloo, prometeu incentivar “a igualdade das chances” para que um jovem dos subúrbios tenha as mesmas oportunidades que um jovem de Paris. Foi um fracasso. Nenhuma comissão parlamentar foi criada para analisar as raízes da crise. Pior ainda, nenhuma base de informação foi concebida pelo governo. Todas as informações dadas ao público sobre o perfil sociológico dos rebeldes e suas reivindicações vêm de fontes científicas independentes ou de associações locais. Em resumo: o balanço da crise dos subúrbios não foi tirado pelas autoridades. O resultado é catastrófico: a taxa de desemprego atinge os 40% na categoria 18-25 anos nas periferias, contra 9% noutro lugar, a maioria das cidades periféricas carece de serviços públicos, o problema da habitação é preocupante... Parece esquecida a mensagem de desespero dos jovens de Clichy-sous-Bois, Sarcelles, Lille-Sud e dos outros bairros populares.
E como os motivos da ira não desapareceram, as probabilidades de ver uma nova crise acontecer são altas. Os Renseignements généraux estimam que o governo tem de considerar “a possibilidade de violências estruturadas e não mais espontâneas, como no último ano contra as instituições republicanas”. De fato, o governo não entendeu nada da crise das periferias e continua a provocar. Símbolo da irresponsabilidade governamental: a viagem do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, à Lozère, um departamento rural conservador e próspero, em 27 de outubro, 365 dias após o início dos motins. Em frente aos plutocratas reunidos para apoiá-lo, falou que conhecia “os sofrimentos, os pedidos, as necessidades e as inquietações do povo daqui em termos de serviços públicos, de acesso a internet, de desertificação...”. Um discurso que nunca pronunciou nos súburbios diante de jovens sem futuro.

Samuel Duhamel