Domingo, 1º de outubro, será o dia mais importante para a política brasileira desde a eleição do ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, em 2002. Com cinco eleições previstas para a mesma data, o cenário político do país pode ser completamente modificado. Novos representantes, novos programas de educação e de distribuição de renda, nova política social e econômica... O futuro dos 190 milhões de brasileiros depende diretamente do veredicto das urnas.
No entanto, os candidatos não parecem levar o assunto a sério. Apesar da importância do que está em jogo, a campanha eleitoral não ultrapassou o espetáculo fútil e sem interesse. Numa verdadeira democracia, os dias que precedem o voto são de intenso debate e troca de idéias. As propostas dos candidatos são comparadas e julgadas pelos cidadãos atentos e conscientes da realidade política. No Brasil, ainda não é assim. A campanha se decide no terreno da afetividade e da intuição. A meta dos concorrentes não consiste em convencer, mas em seduzir o eleitor. Conseqüência direta: a política some e a campanha se transforma num gigantesco entretenimento, onde o vencedor é o que suscita maiores emoções à opinião pública.
Para atrair o eleitor-consumidor, todas as estratégias são usadas: candidaturas esquisitas ou espetaculares (Doutor X, Mamãe, Enéas), ações em família (na Bahia, os Magalhães, o casal João Henrique e companhia), além de canções e slogans simplistas (Lula: o candidato do povo, Buarque: o candidato da educação, Alckmin: o candidato da ética). Como nos filmes comerciais, a campanha eleitoral de 2006 usou também sangue e tiroteio para distrair os eleitores. Os candidatos tentaram assumir o papel do super-herói contra a quadrilha de inimigos malvados. Numa humildade sem limite, Lula se comparou a “Jesus” e a “Tiradentes”. Em resposta, o tucano Alckmin o comparou a um “diabo”. Para a comunista Heloísa Helena, o antigo metalúrgico “está mais para Judas ou Pilatos”. E, de acordo com ACM, o presidente não passa de um vulgar rato. Estamos a milhões de quilômetros de qualquer proposta para combater a fome ou ampliar investimentos em infra-estrutura.
A vontade do presidente Lula de não comentar os fracassos do seu primeiro mandato (redução da jornada de trabalho abortada, imposto sobre as grandes fortunas não foi implemantado, transgênicos entraram no Brasil...) e de não ficar e de não dar entrevistas à Associação dos Correspondentes Estrangeiros simboliza perfeitamente a ausência completa de debate político nessa campanha eleitoral.
Qualquer cidadão interessado pelo futuro do país e o melhoramento da vida dos seus habitantes há de se envergonhar deste imobilismo estéril. Na história, vários presidentes da Républica tais como Juscelino Kubitschek ou João Goulart mostraram que era possível conciliar promessas sérias e vingardistas durante a campanha e ação concreta sucedida durante o mandato. O próximo presidente do Brasil falhou a primeira fase ; esperamos que passará a segunda.
Samuel Duhamel