Após 12 anos no palácio do Elysée, o chefe de Estado Jacques Chirac vai ceder seu lugar a um novo presidente em maio. Há semanas, a campanha oferece um espectáculo pouco habitual: a tradicional luta entre direita e centro-esquerda está sendo perturbada por dois outros candidatos que podem chegar ao segundo turno. Nunca na história da quinta República o País pareceu tão dividido politicamente.
Decididamente, os combates eleitorais franceses não respondem a nenhuma lógica política. Depois da vitória do Mitterand (PS – centro-esquerda), em 1981, quando o mundo virava à direita (Reagan nos Estados Unidos, Thatcher no Reino Unido, Kohl na Alemanha...), após a vitória do Chirac (UMP – direita), em 1995, apesar da chegada de candidatos de esquerda à frente de estados ocidentais (Clinton, Blair, Schröder, Prodi...), após o cataclismo eleitoral de 2007 com a presença do Le Pen (FN – extrema-direita) no segundo turno, a França parece reservar nova surpresa.
Dois candidatos, Nicolas Sarkozy (UMP) e Ségolène Royal (PS), lideram as pesquisas de opinião. Aliás, o atual ministro do Interior é o grande favorito das sondagens. Seu estilo popular, aliado a uma retórica perfeita e a receitas econômicas liberais, seduz muitos franceses, principalmente rurais ou do operariado. Mas este sucesso pode surpreender: a passagem do candidato conservador no governo foi um fracasso quase total com o aumento dos atos de violência, a permanência do clima de insegurança e a revolta dos subúrbios. Sarkozy, porém, é um político moderno: mesmo sendo criticado por muitos, continua atacando os adversários com entusiasmo e carisma. Os franceses parecem apreciar...
Diante da agressividade do ministro, a calma e a serenidade de Ségolène Royal podem fazer a diferença. Mulher do atual primeiro-secretário do Partido Socialista, François Hollande, e antiga protegida do presidente Mitterand, a sílfide tenta jogar o papel de mãe da nação e atrair o eleitorado de esquerda à sua trindade: liberalismo econômico, proteção social e autoritarismo moral. Mas após uma decolagem eufórica, a candidata socialista está em perda de velocidade nas sondagens – seu projeto parece incoerente, vago e oneroso.
Essa estagnação favorece a François Bayrou (UDF – centro), chamado de “terceiro homem”, em refêrencia ao filme clássico de Carol Reed. Sua posição acima dos partidos políticos (quer governar com homens de direita, de esquerda e com ambientalistas) se tornou atraente. Além disso, e apesar dos esforços do Sarkozy, Bayrou é percebido como “o candidato da ruptura”: quer criar uma sexta República, fundar uma Europa federal e reconsiderar o poder midiático que privilegia o casal Sarkozy-Royal. Este posicionamento estratégico dá-lhe quase 20% das intenções de voto, contra 25% para Royal e 32% para Sarkozy. Uma outra sondagem mostrou que ganharia no segundo turno contra ambos concorrentes.
Enfim, um quarto candidato pode esperar uma classificação na etapa final: Jean-Marie Le Pen. Com 79 anos de idade, o “frontista” ainda é um adversário duro e sem piedade. A ausência de limites em seu discurso e o radicalismo contra os estrangeiros que ele chama de “preferência nacional”, agrada a um número crescente de eleitores. O seu programa populista (“economicamente de direita, socialmente de esquerda”) encontra sucesso entre os operários, os empregados e... a grande burguesia, o que pode lhe trazer entre 14 e 20%.
Quatro favorítos, quase 85% dos votos. Os outros dez candidatos atingirão apenas 15%. A França chegou realmente a uma encruzilhada: só basta saber se os cidadãos franceses vão votar pela liberalização do seu sistema, imitando os países anglo-saxônicos, com Sarkozy ou Le Pen ou decidir preservar seu modelo social – e suas carências –, elegendo Royal ou Bayrou. Mais que uma eleição, haverá a escolha de um modelo social no dia 6 de maio.
Samuel Duhamel
Jornalista, formado em Ciências Políticas no Instituto des Estudos políticos de Lille.
La France a la croisée des chemins
Après douze ans au Palais de l’Elysée, Jacques Chirac (UMP) va céder sa place à un nouveau président en mai prochain. Le début de la campagne électorale offre un spectacle inhabituel : la traditionnelle lutte entre droite et centre-gauche est perturbée par deux autres candidats qui peuvent atteindre le second tour. Jamais dans l’histoire de la Ve République, le pays n’est apparu aussi politiquement divisé.
Décidément, les combats électoraux en France ne répondent à aucune logique politique. Après la victoire de Mitterrand (PS) en 1981 alors que le monde virait à droite (Reagan aux Etats-Unis, Thatcher au Royaume-Uni, Kohl en Allemagne…), après l’élection de Chirac en 1995 quand des chefs d’Etat de centre-gauche arrivaient au pouvoir en Occident (Clinton, Schröder, Blair, Prodi…), après le cataclysme de 2002 et la présence de Jean-Marie Le Pen (FN) au second tour de la présidentielle, la France peut réserver une nouvelle surprise électorale.
Deux candidats, Nicolas Sarkozy (UMP) et Ségolène Royal (PS), arrivent en tête dans les enquêtes d’opinion. D’ailleurs, l’actuel ministre de l’Intérieur reste le grand favori des sondages. Son style populaire, allié à un verbe affûté et à des recettes économiques libérale, séduit beaucoup de Français, principalement les ruraux et les ouvriers. Mais ce succès peut surprendre : le passage du candidat conservateur place Beauvau a été un échec quasi-total avec l’augmentation des actes de violence, la permanence d’un climat d’insécurité et la révolte des banlieues. Mais Sarkozy ne s’en laisse pas compter : même en étant critiqué, il continue d’attaquer ses adversaires avec enthousiasme et charisme. Les Français paraissent appréciés…
Devant l’agressivité du ministre, le calme et la sérénité apparente de Ségolène Royale peuvent faire la différence. Femme de l’actuel premier secrétaire du parti socialiste, François Hollande, et ancienne protégée du président Mitterrand, la sylphide tente de jouer le rôle de mère de la nation et d’attirer l’électorat de gauche à son triptyque : libéralisme économique, protection sociale et autoritarisme moral. Mais après un décollage euphorique, la candidate socialiste est en perte de vitesse : son programme paraît en effet incohérent, trop vague et trop cher.
Cette stagnation profite à François Bayrou (UDF), le troisième homme cher au réalisateur britannique Carol Reed. Sa position au-dessus des partis politiques – il souhaite gouverner avec des hommes de droite, de gauche et avec des écologistes – est devenue attractive. En outre, au grand dam de Nicolas Sarkozy, Bayrou est perçu dans l’opinion publique comme le candidat de la « rupture » : il veut créer un VIe République, fonder une Europe fédérale et reconsidérer le rôle des médias qu’il juge trop proches du couple Sarkozy – Royal. Ce positionnement stratégique lui rapporte près de 20% dans les sondages contre 25% pour Royal et 32% pour Sarkozy. Un autre sondage a montré qu’il gagnerait au second tour contre ses deux principaux adversaires.
Enfin, un quatrième candidat peut espérer se qualifier pour l’étape finale : Jean- Marie Le Pen. Agé de 79 ans, le frontiste est encore un candidat dur et sans pitié. Son absence de limites dans le discours et son radicalisme anti-étranger (« la préférence nationale ») plaisent à un nombre croissant d’électeurs. Son programme populiste (« économiquement de droite, socialement de droite ») rencontre un certain succès chez les ouvriers, les employés et… la grande bourgeoisie, ce qui pourrait lui apporter entre 14 et 20% des voix.
Quatre favoris, 85% des voix. La dizaine d’autres candidats se battra pour le reste. La France est donc vraiment arrivée à la croisée des chemins. Il ne reste plus qu’à savoir si les citoyens français vont voter pour la libéralisation de leur système, en imitant les pays anglo-saxons avec Sarkozy ou Le Pen, ou décider de préserver leur modèle social – et ses carences – en élisant Royal ou Bayrou. Plus qu’une élection, c’est donc un véritable choix de société qui va se décider le 6 mai prochain.
Samuel Duhamel